sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

INCERTO MAS PRECISO

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

PEQUENO TESOURO

PEQUENO TESOURO

Vejo-te desenhar o valor dos dias
Numa folha,
Do outro lado da esplanada
E torno-me refém do teu traço,
Dos teus traços...
Só no tentar não olhar,
Me transporto para os teus pensamentos...
Mas,
Se por vezes
Imagino o meu peito no chão
Enquanto escuto esta linha de comboios
Abandonados,
De outras vezes
É o chão que me escuta a mim...
É o chão que me retira o fôlego
Dos passos rápidos
E me puxa para ele
Cada vez com mais intensidade!
Desculpa o sorriso que vesti
Quando trocamos olhares
Mas não o consegui evitar...
Vejo-te levantar
E imediatamente sinto a voz do chão
Que me chama... Que me desafia.
Caminhas vagarosamente para longe
Enquanto acorda uma brisa
Nos teus cabelos ondulados.
Fico absorto...
...quando me apercebo que também sorriste...
Corro na direcção da mesa em que te encontravas
E nela repousa o papel com o teu desenho...
...
...
Este,
Que ainda hoje trago comigo.


                                                                 23 FEV 2010
                                                                 pedro isidoro

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

VINIL

VINIL

Descansa o escaldante café
Na mesa da sala de estar
Dentro da habitual chávena vermelha...
Aquela com a pega partida.
Partiu-se, a pega,
Quando me desafiaste
A fazer um arriscado malabarismo
Com outras quatro chávenas...
Foi esta que me escorregou...
É desta que ainda hoje bebo.
Antes de me sentar na cadeira
Junto à janela,
Neste gélido e chuvoso dia
De puro e aconchegante Inverno,
Faço dançar a agulha
Sobre aquele disco
Que me desafiaste a emprestar
(E nunca mais devolver!)
Daquela loja de esquina
Que ainda hoje evito...
De chávena na mão
E dedos ligeiramente escaldados,
Olho para a deliciosa melancolia
Deste horizonte cinzento
E deixo-me levar pelos sons
Que lentamente invadem a sala...
Ecoam...
Ecoam num dormente crescendo
As tuas últimas palavras
Com o teu último desafio...
"Aposto que não és capaz de me esquecer..."


                                                              pedro isidoro
                                                              19 Fev 2010


p.s.: a ouvir Matthew Santos - "Death Sex and Regret"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CADEIRA DE PAPEL

CADEIRA DE PAPEL

Vejo-os cair...
Outra e outra vez.
Sentado numa cadeira de papel,
Vejo-os no chão,
De coração nas mãos
E olhos fechados,
À procura da luz que os guiava.
Tacteiam incessantemente,
Gritam de dor e frustração,
Choram...
Pedem desesperadamente ajuda
Para se poderem levantar de novo...
Mas a força de gravidade
Acabou de ficar mais presente...
Quase visível.
Vejo-os,
Do alto da minha cadeira de papel,
Quase desistir de simplesmente respirar...
Vejo-os
Como quem olha para um espelho desfeito,
Sem falhas nem repetições,
Com os pés bem assentes no ar.
Pudessem eles voltar a sentir,
Abrir os olhos e inspirar...
Pudessem eles levantar-se
Para uma cadeira que não fosse de papel...

                                                                              pedro isidoro
                                                                              17FEV2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tem (C)alma

Tem (C)alma

Cerro os dentes
E reencaminho a luz
Para onde deveria sempre estar...
...no teu rosto...
...na calma daqueles breves segundos
Em que tudo era como nós queriamos que fosse...
...na árvore que nos deu de beber
Mas nos matou à fome.
Não vale a pena
Bater com os punhos na mesa
Quando as cores que nos definiam
Se esbatem em pequenas gotas de orvalho
Estendidas sobre os nossos rostos.
E é quando fecho os olhos novamente
Que me sinto obrigado a procurar...
Um incessante vasculhar
De imagens e sons disconexos
Que alimentam uma parábola de realidades perdidas.
Oh!, busca infértil...
...alma sem brilho...
Que mais nos poderá acontecer?

É enorme este vazio
Repleto de tudo.

                                                      pedro isidoro
                                                      12 FEV 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

RESCREVER

RESCREVER

Perdi o hábito de escrever no papel...
O vício do inebriante cheiro
Da tinta,
Do sangue desta caneta barata
Que se entrega completamente
Até me levar onde quero chegar...
Perdi o hábito de ler o que me escrevias
Para não me lembrar de quem realmente sou...
Como é que vim aqui parar
Se ainda ontem te sentia nas minhas veias?
Hoje,
À distância de uma névoa,
Perco-te em pensamentos
Na urgência da realidade,
Na calma presença do inevitável Mundo
Que me continua a pesar mas costas...
"Acende outro pau de incenso."
Estas são as palavras que nunca me disseste
Mas que a minha,
Ténue e desajustada,
Memória criou
Para este fugaz e indelével momento.
"Descontrai... estou aqui."
Dirias tu novamente,
Com a toda a tua convicção,
Enquanto os meus dedos acariciam
A folha em branco...

                                             pedro isidoro
                                             10 FEV 2010

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